Nem mesmo os mais confiantes na aviação brasileira poderiam esperar a quebra da Avianca Brasil em 2019. No ano em que a quarta maior companhia aérea do país entrou em recuperação judicial, as demais novidades do setor parecem até secundárias. Eduardo Sanovicz certamente é um dos que foram surpreendidos.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) não imaginava a repetição de um filme vivido por Varig, Vasp e Transbrasil, para citar alguns. “De 2015 pra cá, quando a economia começou a piorar, nós prevíamos um cenário de desafios e problemas. Mas não pensávamos que nenhuma empresa ia parar”, afirma sucintamente em entrevista ao Agente de Valor.
A saída abrupta da Avianca deixou um buraco enorme na aviação. Para ser mais exato, uma lacuna de 13% na oferta, com a retirada de 54 aviões. Todavia, esse espaço deve ser preenchido até dezembro pela concorrência, mas a preocupação maior de Sanovicz tem nome bem conhecido do brasileiro: o dólar.
A subida constante do dólar, que hoje bate R$ 4,24, não é apenas um complicador para quem repensa viajar para fora. “Quando o câmbio sobe, isso impacta 60% do custo da aviação brasileira”, diz, referindo-se a gastos em combustíveis e leasing.
Eduardo Sanovicz fala de competitividade
Mas nem tudo é nebuloso nos céus brasileiros. Desde setembro de 2018, Passaredo e Map se uniram à Abear. A inclusão das duas empresas fortes no interior de São Paulo e Manaus, respectivamente, ganhou um novo capítulo com a compra da segunda pela primeira.
A aquisição da Map pela Passaredo levantou questionamentos dos clientes nortistas. A negociação fez com que os viajantes colocassem em xeque a saúde financeira da Passaredo. Em outras palavras, a transportadora enfrentou problemas financeiros e entrou em recuperação judicial até 2017. Eduardo Sanovicz tranquiliza quem quer que esteja desconfiado.
“Os passageiros da Map podem ficar absolutamente tranquilos, eles serão atendidos com padrões da qualidade do mais alto nível. [A Passaredo] É uma empresa que está competindo e crescendo no mercado mais disputado do continente”, garante o presidente da Abear.
Para ele, a chegada de ambas em Congonhas, que abocanharam os slots pertencentes à Avianca, é mais do que benéfica. A presença de Passaredo e Map é, segundo Sanovicz, “a sinergia de duas famílias que enxergaram maior competitividade unindo suas operações”.
A chegada do stopover
Entretanto, o disputado aeroporto paulista não é pauta apenas pela inclusão das aéreas já mencionadas e da Azul na ponte aérea. Dessa forma, pensar em Congonhas como uma das três portas de entrada para o programa de stopover lançado pelo Governo do Estado de São Paulo. A ação foi lançada em conjunto com a Abear e o São Paulo Convention & Visitors Bureau.
O terminal se junta a Guarulhos, na Grande São Paulo, e Viracopos, em Campinas, como entrantes para receber mais turistas. A primeira companhia aérea a lançar o produto foi a Gol. De acordo com Sanovicz, Latam, Passaredo e Azul apresentarão suas novidades a fim de atrair mais viajantes por até duas noites no estado nos próximos 30 dias.
Além disso, propagação do stopover, tão popular na Europa, pode aquecer a economia paulista neste segundo semestre. Contudo, quando a questão volta para o Brasil, Eduardo Sanovicz se mostra inquieto com a crise econômica que se estende até então. “O cenário de expectativas está mais para 2020”, diz, após citar a projeção de 0,4% de alta do PIB para este ano.
Em 2018, a aviação brasileira transportou mais de 102,4 milhões de passageiros em voos nacionais e internacionais. Certamente, resta saber se esse número será mantido até o fim deste ano.